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Caminhe para o Sol sempre... Mesmo com seus pés sangrando.

Estilhaços que eu tento reconstruir
Eu me sentei diante de mim hoje, revisitei a mim mesma em meio a natureza, ok a revisitação foi em 25/07/2017. E, repentinamente, feridas imensas há tempos esquecidas se abriram de novo.

Mas com um gosto diferente na minha boca.Lembrei de amigos que eu perdi por causa das drogas. E que eu quis tanto que eles tivessem me ouvido. Queria voltar naquele momento, em que eu os senti fazer a passagem deste plano. E mudar o destino de cada um. Mas não tenho esse poder.

Me lembrei de todas as vezes que fui humilhada e agredida por causa da minha aparência. E que ninguém nunca me perguntou o que aconteceu para eu ser desta maneira.

De como eu cresci ouvindo que eu não tinha cuidado com a minha aparência e como uma garota, eu não tinha o direito de ser feia e gorda.

De todos os lados, julgada pela aparência, por estar acima do peso. Por ter um nariz que lembra "preto", cabelo ruim de bombril... "Que engraçado isso, você é branca mas tem cabelo bombril e nariz de preto". A escravinha Isaura da turma, filha de pais divorciados.

De como desde cedo eu tive que aprender a ser a mais inteligente e a que tinha as maiores notas na escola. Pois os NERDs são queridos em dia de provas e em trabalhos em grupo...

Eu aprendi desde cedo ler as pessoas como elas realmente são. E, realmente, isso é muito bom. Você não se engana mais, se algum dia você se transformar em algo que todos vão repentinamente amar.


Eu lembrei da primeira música que eu ouvi, do primeiro poema que eu escrevi...

Eu lembrei da minha infância cheia de amor, cheia de tantos cuidados que me faziam pensar o motivo daquilo tudo...

Lembro de sussurros pelos cantos e um assunto que "ela ainda não tem maturidade para saber"...

Olhares de compaixão, olhares de amor, olhares de pena... E olhares de "quem ela pensa que é para estar aqui"...

Comecei a lembrar quando eu perdi a minha voz... Quando eu comecei a esquecer quem eu realmente sou, para entrar numa luta perdida de querer fazer parte, de ser aceita de ser amada a qualquer preço, não importando quantas vezes eu teria que destruir meu coração para agradar os outros...

Lembranças, programação mental uterina, voltavam a minha mente todos os dias... "Você é descartável"... "Eu te odeio"... "Você não cumpriu seu objetivo"... "Você nunca vai ser amada, coisa inútil"...


Eu cresci me odiando muito... Cresci acreditando ser menos do que eu realmente sou...

Cresci pensando que eu precisa ser útil na vida dos outros e que se eu perdesse a utilidade, eu seria de pronto descartada.

Me fizeram acreditar nisto. Numa programação mental intensa. E depois eu aprendi a me programar mentalmente, sozinha, colocando até gatilhos que, aos poucos estou destruindo por mim mesma, conseguiam me destruir imediatamente quando acionados.


Lembrei das vezes que eu chorando por dentro, colocava um sorriso falso no rosto. Para não mostrar o quão vulnerável eu estava... E as vezes sinto vontade de voltar a esse tempo... Porque assim, a gente se protege de alguns abutres que entram na sua vida.

Dizem que o luto passa com o tempo. Acho que não... Numa sucessão de perdas, que ninguém nunca soube me explicar o motivo de tanta dor... Pois cada perda acontecia sem fazer qualquer sentido...

A gente revira lembranças e volta a ver feridas para curar.

"Hoje é dia dos pais e eu não tenho nada o que comemorar. Mais uma vez ando triste, lembranças... Não tenho ninguém pra dar presente.
Hoje eu fui no cemitério ver o tumulo do meu pai, mesmo depois de passar três anos eu ainda o sinto perto. Hoje eu fui vê lo, levei e queimei um incenso de mirra (que para os judeus a mirra significa riqueza e sabedoria). Fui lá, tive a chance de chorar, deixar sair a dor que esta dentro de mim, tive a chance de dizer que eu o amo, que eu sinto saudade, que eu queria tê lo comigo pra gente pescar hoje. Sim, meu paidrasto, estava me ensinando a pescar. Queria ele perto, pra brigar com ele, depois vê lo dizer "sua sem juízo, eu te amo filha". Queria ele pra me proteger. Engraçado, meu pai biológico me abandonou e nunca mais veio me ver. E ele, Rubens Minervino Pinheiro, me adotou como filha. Ele me ensinou o valor de um pai, me ensinou a ser mais feliz, mesmo ouvindo aqueles pagodes idiotas do Zeca Pagodinho, ele era todo engraçado.
Me ensinou a persistir até o fim, me ensinou algumas coisas sobre farmácia, sim ele era farmacêutico.
Ele jogou bola comigo, leu meus poemas, me ensinou a ser mais forte, me incentivou nas horas difíceis, me corrigiu quando eu precisei, mesmo nas brigas me ensinou a entender que era o melhor pra mim. Ele realmente se comportou como se fosse meu PAI, com todas as letras e em maiúsculo, não foi como meu pai biológico, que só porque minha mãe se casou de novo, nunca mais voltou.
Sim, hoje, em frente aquele tumulo, eu deixei meu pai ir, deixei ele descansar. Entendi que a missão dele aqui havia acabado, que tinha que me encontrar, me ensinar o que é ser um pai na vida de um filho. E depois ir. Sim, eu sei que em outra vida nos encontraremos de novo. Apenas dói estar nesta casa, onde tudo lembra ele. Onde eu o vejo em todos os lugares, mas não posso tocá lo.
Eu não pude me despedir dele, não vi o rosto dele, o maldito caixão estava lacrado até o vidrinho. Então é isso.
Quem tem seu pai do seu lado, agradeça por isso, não desejo a ninguém a dor que eu sinto.

Hoje eu não to bem, isso desde de ontem, nem dormi direito.

Pais e Filhos - Legião Urbana - On August 14 2005"

Mas, às vezes, isto é bom, pois as feridas começam a fechar, cicatrizar...

O tempo vai te ensinando como driblar muitas coisas, lembro de amigos que eu sinto falta, que não estão mais aqui... Que me impediram de curtir o barato do pó de estrelas, e a viagem da estrada de Vênus...

Os agradeço... Sempre lembro... "Você é diferente, anjinho, você é melhor que todos nós juntos"...

Gente que me fazia prosseguir quando eu não queria... E que me doeu imensamente ver o corpo de cada um descer a sepultura. E, confesso, teve alguns amigos que eu não tive coragem de ir no enterro, porque eu sabia que eu ia desmoronar... Porque eu não consigo, até hoje, acreditar que eles morreram tão jovens... E eu senti o momento da passagem de cada um...

Talvez três perdas nesta vida tenham me abalado tanto, que até hoje eu não consegui me reconstruir...

A perda da minha Vó Helena, que me ensinou tanto sobre Amor, Fé e respeito pela vida... E no momento que ela estava morrendo no Hospital em Bragança, a gente voltava pra São Paulo e quase sofremos um acidente na volta...

A perda do meu Paidrasto Rubens, foi a mais dolorosa, eu senti o momento da passagem, eu dormi no momento da passagem dele, mas era um sono estranho, cheio de dor, cheio de sofrimento e eu sabia que ele estava morrendo naquela tarde... Onde meu coração ficou tão destruído que o silêncio ficou sendo meu melhor amigo e eu não consegui derramar uma lágrima durante anos, até a exumação do corpo dele. E que eu pude constatar como "amigo" que o convenceu a ir naquela viagem tinha sido bem filho da mãe... Falso, mentiroso... E pensa que eu não sei da verdade... Mas eu sei... Ninguém constrói felicidade em cima da dor e sofrimento dos outros... Nem roubando a esperança dos outros... Esse é o único filho da mãe que eu ainda vou acertar as contas com ele...


Mas eu sinto muito a falta daquela menininha que sorria mais, sonhava mais... E que não tinha tantas cicatrizes...

Se eu pudesse voltar no tempo, algumas coisas eu mudaria e algumas decisões eu não teria tomado...

Mas eu me tornei alguém melhor... Alguém mais forte... E isto faz valer a pena muita coisa...

Na vida existem vários tipos de drogas, desde entorpecentes até gente que dissimula sentimentos por você... E eu tenho me limpado de muitas drogas do segundo tipo, gente que é pior que morfina e até pior que crack.


Com carinho...

Dryca

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