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A Arte é o Templo em que eu quero estar

A arte, na minha vida, foi e é algo de extrema importância. Apaixonei-me pelo teatro cedo, e quis segui-lo.

Com isto, tornei-me um lobo solitário. Pelo fato de começar a ouvir o tempo todo "isto não dá dinheiro". E constantemente ser massacrada pelas pessoas ao meu redor dizendo "você tem que fazer algo da sua vida, ser alguém na vida". Para mim, sempre foi muito difícil fazer as pessoas ao meu redor, principalmente as da minha família entenderem que a Arte é importante para mim, que ela transcende estes rótulos de ser alguém que segue a multidão, de trocar a felicidade por uma busca incessante pelo dinheiro e reconhecimento do mundo. Uma luta constante e vazia para encontrar um lugar ao sol de objetivos que eu nem quero para mim. Ser realizada em situações que não fazem sentido nenhum para mim. Uma corrida solitária para o lugar nenhum, onde apenas quem ficará feliz são as pessoas que insistem em me transformar em algo que eu não quero ser. Ser alguém que eu não me reconheço.

Eu sempre quis encontrar o meu caminho. E desde pequena fui programa da a seguir a multidão e querer ser aceita e constantemente era discriminada e sempre ouvia "você não pode isso", "você não pode aquilo". "Menina você esta engordando demais, você não pode engordar". "Mulher tem que ser bonita e magra"... "Menina você tem que procurar um homem para casar, mulher sem marido é mulher inútil".

Dai eu aprendi a ser sozinha. Porque as coisas começavam a dar certo para mim e repentinamente desmoronavam, depois de todo mundo me massacrar e dizer "ela não merece isso". Eu aprendi a me isolar desde cedo e aos sete anos tive o primeiro contato com a poesia, quando escrevi um poema, Lira das Rosas, que para uma criança de sete anos, era um poema muito complexo e muito bem construído. Daí passei a escrever, mais e mais... Num transtorno obsessivo compulsivo de escrever e escrever e cada vez mais os poemas iam se tornando complexos, mais densos, buscando respostas de perguntas que eu nem tinha ideia que seriam feitas. Como se a vida conversasse comigo, a cada pessoa que eu conhecia, ou via. A cada silêncio não entendido pela maioria, a cada perda, a cada lágrima que escorria. A cada momento... Os poemas começam a se formar sozinhos dentro da minha cabeça e repentinamente eu tinha um "faniquito", tinha que escrever, senão não tinha paz. Não tinha sossego. Só passava quando eu escrevia.

Repentinamente chegou o teatro na minha vida, montando peças na escola, onde a dramaturga era eu. Onde nos reuníamos e encenávamos peças que criávamos. Sorria feliz e ai começava a minha jornada dentro da Arte.

E eu entendi que havia uma ligação estranha entre a arte e eu. Como se a Arte tivesse me escolhido.


Mas como sempre, eu era colocada entre a escolha da razão e do coração. Eu amo a Arte, com todas as forças do meu espírito, da minha alma. Mas todos ao meu redor  sempre diziam "Artistas passam fome"... "A Arte não dá dinheiro"... "Arte é coisa de gente vagabunda".

Eu fiz magistério sim, a contragosto e forçada, quando eu pensava em seguir a arte, sempre alguém forçava meu caminho para outro lado.

E eu sempre vivi com a sensação de estar vazia e incompleta. Como se nada se encaixasse, como se nada fizesse sentido.

Algo sempre queimou dentro de mim, dizendo "não se esqueça jamais de quem você realmente é". Algo dentro de mim, como um chamado antigo e ancestral, que repetia cada vez mais alto e mais forte "Não se esqueça de quem realmente você, não se esqueça que seus ascendentes te deram a Arte, não se esqueça que você é filha e discípula da Arte". Algo bem mais forte que eu, algo bem maior que eu. Algo que eu não podia ignorar, algo que eu não podia fingir que não estava ouvindo, pensando ou sentindo. Algo que realmente fazia com que tudo em mim começasse a fazer sentido. 

E quando você tem uma missão, um chamado. Você, simplesmente, não pode ignorar. Pois, talvez tudo que você mais almeje esteja ali.

Mas a gente costuma ouvir a canção da morte que as pessoas ao nosso redor cantam, quando nos desanimam e tentam nos afastar de nossos sonhos e de  nossas verdadeiras vocações.

Para alguns a vocação é a medicina, para outros a engenharia, para outros é se tornar lideres, para outros é ser pais e mães... Para alguns é a Arte.


Para alguns a alegria é encarnar tudo que a Arte oferece. É poder viver o novo a cada espetáculo. E criar e recriar o belo, sem perder a inocência de si mesmo.

É conseguir se integrar com o mundo através da magia que sai do tablado.

Ser artista vai muito além da fama, vai além da superexposição, vai muito além da ilusão do glamour...

Ser Artista é conseguir ver através dos olhos dos outros e trazer a vida personagens que o autor criou. Ser artista é ter a capacidade de entender que aquele personagem tem vida própria, que aquele personagem tem algo a dizer ao mundo. E principalmente, saber como trazer aquele personagem a vida, saber seguir a energia que emana do texto. E seguir a energia do seu companheiro de palco. Ser artista é ter a capacidade de ouvir a beleza que a vida canta em notas com tanta sutileza e quase inaudíveis e conseguir reproduzir a canção da beleza ao mundo, deixando quem assiste interpretar livremente a mensagem que lhe foi passada. Ser artista é carregar uma das maiores responsabilidades que se pode ter. A responsabilidade de deixar o mundo mais bonito através da arte.

A responsabilidade de trazer dentro o outro o desejo de ser tocado e modificado pela arte.

Ser artista é para pessoas realmente fortes. Porque a arte é sacerdócio, a arte exige altas doses de humildade, altas doses de coragem, altas doses de ousadia. Altas doses de força e de desprendimento.

Quem é artista, nasce artista... Ninguém se faz artista. O verdadeiro artista permanece forte nas adversidades que vem dentro do caminho da arte. E o caminho da arte é cheio de espinhos, dor e renúncia. Coisas que não vemos no tablado, mas que se esconde nas coxias da Arte.

Ser artista para quem tem a alma forte e o espirito livre. Que é destemido e não tem medo de se atirar do penhasco, sem rede de proteção e ainda cai em pé, sem nenhum arranhão.


Se você quer ser Artista, descubra se você realmente tem vocação para isto. E se você tem coragem de deixar muitas coisas para trás para seguir a arte.

E tendo a certeza que não se pode ter pressa, é preciso saber caminhar com calma e continuamente no caminho dar arte.

Eu posso com toda certeza, afirmar para todos vocês. A arte não é o que eu faço. A arte é quem eu sou.

E a Arte significa a minha vida.

Com carinho.

Dryca Lys

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