O Ovo da Serpente: Sutilmente instigante, inteligentemente construída.

Um texto interessante. Uma trama inteligentemente construída. Pensada, milimetricamente, para criar uma peça de impacto profundo psicológico.

A trama gira num tema muito delicado e realmente forte.

Quando um assassino neonazista que convida um jovem psicopata para testar o caráter de sua mulher, uma ex-prostituta judia. Mas a situação toma um rumo surpreendente e completamente fora do controle.

É uma daquelas peças que você tem que ter força de espírito para assistir, porque ela vai começar a mexer em conceitos arraigados dentro de você e vai começar a te incomodar para que você se auto-convide a promover mudanças necessárias em muitos pontos de vista que se tem guardados dentro de si.

Uma formula interessante que trabalha a questão da psicopatia, da falta de escrúpulos de alguém que tirou vidas em nome do Nazismo e da triste situação de uma mulher que teve que se prostituir para se manter viva, num dos períodos mais negros da história da humanidade.

Gloria Rabelo e Rudson Mazzorana

O impacto e as notas de dor e tortura psicológicas foram bem trabalhados pelo novo dramaturgo Rudson Mazzorana, que também por muito tempo foi do doce castelo Ra tim bum, o jovem mostra uma maturidade literária interessante e uma criatividade que poucos dramaturgos conseguem atingir. Conseguir criar um universo sombrio, soturno, doloroso e ainda sim, você conseguir ver notas de inocência, de humanidade, de pequenos cálices de esperança e força... Uma peça surpreendente em seu contexto e sua concepção.

O elenco esta afinado e afiado. Num jogo cênico que não deixa a energia do texto cair. Com certeza Dulcina de Moraes se tornaria fã dessa trama, pelo jogo cênico e o entrosamento entre o elenco.

O jovem dramaturgo tem uma boa chance de se tornar um celebrado autor teatral, basta continuar imprimindo sua identidade e sua sensibilidade. E, realmente, já estreou com o pé direito. A peça é muito boa.

Nuances de loucura que lembram Nelson Rodrigues. Com um jogo psicológico assustadoramente cativante. A personagem Lascívia passou com perfeição a sensação de dor, de ódio, de desespero, de desenvolução.

Porém o Personagem Mike, que personagem um misto de loucura, de ódio, de psicopatia. Algo imensamente assustador, porém completamente sedutor, confesso que em alguns momentos eu tinha vontade de levantar e ir em direção dele. Pois, em vários momentos, o personagem me seduziu...

Jack, doce e desequilibrado Jack... Suas nuances de dor, distancia e tristeza. Me comoveram como nunca antes...

Um texto corajoso num tempo onde tudo é medo e tudo é repudiado pelo politicamente correto.

Realmente, eu me senti lendo alguns textos de Nelson Rodrigues vendo aquela peça, como Anjo Negro, Vestido de Noiva e Álbum de Família, num mix macabro de dor e ódio.

E logo veio o perfume de Plínio Marcos, com a doce performance de Gloria Rabelo... Abajur Lilás ficou evidenciado de maneira sutil.

O final não é o que você espera... Ele supera suas expectativas. Incomodo, perturbador, reflexivo...

Quando a vítima se apaixona por seu algoz. E o seu algoz descobre que se apaixonou por sua vítima... Mas algo do passado os queimará até a alma.

"O amor existe quando há ódio. Somente pelo ódio profundo demonstramos o amor verdadeiro"... Mensagem que ficou clara no texto, em suas entrelinhas.

Rudson Mazzorana e eu

Rudson Mazzorana me surpreendeu de uma maneira que eu jamais imaginei, com um personagem desta complexidade e desenvolvido por ele e com um texto dessa magnitude... Estou sem palavras... Impressionante.
Impactante... Dia 27 de agosto é a derradeira apresentação. NÃO PERCA, VALE MUITO A PENA CONFERIR O OVO DA SERPENTE... REALMENTE VALE A PENA.

O Ovo da Serpente de Rudson Mazzorana

Direção de André Greco.

Elenco: Gloria Rabelo, Rudson Mazzorana e Zaqueu Machado.

Onde: Espaço Cênico Viga, Rua Capote Valente, 1323 - Sumaré (Menos de 5 minutos do Metrô Sumaré)

Com Carinho

Dryca Lys