Quem é Alvares de Azevedo?
Poema que integra o Livro A Lira dos 20 Anos.
A tempestade
por Álvares de Azevedo
FRAGMENTO
Profeta escarnecido pelas turbas
Disse-lhes rindo — adeus!
Vim adorar na serrania escura
A sombra de meu Deus!
Disse-lhes rindo — adeus!
Vim adorar na serrania escura
A sombra de meu Deus!
O céu enegreceu: lá no ocidente
Rubro o sol se apagou;
E galopa o corcel da tempestade
Nas nuvens que rasgou...
Rubro o sol se apagou;
E galopa o corcel da tempestade
Nas nuvens que rasgou...
Da gruta negra a catarata rola,
Alaga a serra bronca,
Esbarra pelo abismo, escuma uivando
E pelas trevas ronca...
Alaga a serra bronca,
Esbarra pelo abismo, escuma uivando
E pelas trevas ronca...
O chão nu e escarvado p'las torrentes
Trêmulo se fendeu...
Da serrania a lomba escaveirada
O raio enegreceu.
Trêmulo se fendeu...
Da serrania a lomba escaveirada
O raio enegreceu.
Cede a floresta ao arquejar fremente
Do rijo temporal,
Ribomba e rola o raio, nos abismos
Sibila o vendaval.
Do rijo temporal,
Ribomba e rola o raio, nos abismos
Sibila o vendaval.
Nas trevas o relâmpago fascina,
A selva se incendeia...
Chuva de fogo pelas serras hirtas
Fantástica serpeia...
A selva se incendeia...
Chuva de fogo pelas serras hirtas
Fantástica serpeia...
Amo a voz da tempestade,
Porque agita o coração...
E o espírito inflamado
Abre as asas no trovão!
Porque agita o coração...
E o espírito inflamado
Abre as asas no trovão!
A minh'alma se devora
Na vida morta e tranqüila...
Quero sentir emoções,
Ver o raio que vacila!
Na vida morta e tranqüila...
Quero sentir emoções,
Ver o raio que vacila!
Enquanto as raças medrosas
Banham de prantos o chão,
Eu quero erguer-me na treva,
Saudar glorioso trovão!
Banham de prantos o chão,
Eu quero erguer-me na treva,
Saudar glorioso trovão!
Jeová! derrama em chuva
Os teus raios incendidos!
Tua voz na tempestade
Reboa nos meus ouvidos!
Os teus raios incendidos!
Tua voz na tempestade
Reboa nos meus ouvidos!
É quando as nuvens ribombam
E a selva medonha está,
Que no relâmpago surge
A face de Jeová!
E a selva medonha está,
Que no relâmpago surge
A face de Jeová!
A tuba da tempestade
Rouqueja nos longos céus,
De joelhos na montanha
Espero agora meu Deus!
Rouqueja nos longos céus,
De joelhos na montanha
Espero agora meu Deus!
O caminho rasgou-se: mil torrentes
Rebentam bravejando,
Rodam na espuma as rochas gigantescas
Pelo abismo tombando.
Rebentam bravejando,
Rodam na espuma as rochas gigantescas
Pelo abismo tombando.
Como em noite do caos, os elementos
incandescentes lutam.
Negra — a terra, o céu — rubro, o mar — vozeia
— E as florestas escutam...
incandescentes lutam.
Negra — a terra, o céu — rubro, o mar — vozeia
— E as florestas escutam...
Tudo se escureceu e pela treva,
No chão sem sepultura,
Os mortos se revolvem tiritando
Na longa noite escura.
No chão sem sepultura,
Os mortos se revolvem tiritando
Na longa noite escura.
Profeta escarnecido pelas turbas
Disse-lhes rindo — adeus!
Vim fitar ao clarão da tempestade
— A sombra de meu Deus!
Disse-lhes rindo — adeus!
Vim fitar ao clarão da tempestade
— A sombra de meu Deus!
Imagem: Internet
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